Francine Moreno
Estudos mostram que a maioria absoluta dos executivos apresenta sintomas de estresse crônico. A extensão dessa condição leva à perda da eficiência, além de trazer riscos para a saúde e piora na qualidade de vida. Entretanto, situações que acabariam desencadeando esse estresse podem fortalecer o desempenho se forem encaradas com senso de humor. Arma de sedução e remédio contra dramalhões, uma boa risada é também sinal de que existe inteligência emocional diante dos embaraços da vida. Bom humor está ligado a vigor físico, bem-estar psicológico e vitalidade espiritual. “Rir é um dos facilitadores para driblar qualquer frustração”, afirma a analista comportamental Catarina Delgado Cavacco.
Frustração é algo com que se convive constantemente. A forma como a pessoa lida com esse sentimento é que fará a diferença do seu impacto. “A pessoa bem-humorada consegue ser mais descontraída diante das situações estressantes, tem uma compreensão mais flexível dos fatos e com isso consegue muitas vezes aprender com o sentimento negativo e não se deixar abater”, complementa a psicóloga e psicoterapeuta Geórgia Nigro Argese. Mas manter o humor exige equilíbrio. É preciso corresponder ao que sinto e penso. Para isso, a especialista Geórgia revela que é preciso viver em sintonia consigo e com o mundo, além de buscar um constante processo de autoconhecimento e desenvolvimento. “Não sei se é possível viver bem-humorado 100% do tempo, mas batalhar para minimizar os efeitos estressantes do dia-a-dia já pode ser suficiente para transformar sua vida. Quando se consegue levar a vida de acordo com o que se pensa e sente os acontecimentos tendem a ser sentidos de forma mais positiva.”
A recomendação de bom humor vale também para conversas complicadas. Alguma tirada criativa tem o poder de desarmar uma briga e isso não significa tampar o sol com a peneira. Mas é também preciso discernimento para não dizer algo que desrespeitará o outro. Os pensamentos e sentimentos das partes envolvidas devem ser levados a sério. “Isso não significa ser mal-humorado ou agressivo, existem formas leves e bem humoradas de se conversar. As discussões onde as pessoas conseguem se manter calmas, com um certo grau de bom humor, tendem a ter um encerramento satisfatório para os envolvidos”, afirma Geórgia. Mas é preciso tomar cuidado com o excesso de bom humor, fazer piadas ou tiradas engraçadas na tentativa de encerrar um assunto sem na verdade saná-lo pode ser uma tentativa de fuga. “O bom humor diante das frustrações da vida indica um grau elevado de flexibilidade e confiança. Mas em excesso pode prejudicar qualquer relação. Se por exemplo, um marido nunca consegue discutir uma situação com sua esposa sem fazer graça ou piada, ela pode cansar em não ter companhia para buscar soluções eficazes. Isto pode facilmente destruir um relacionamento”, afirma a psicóloga clínica Ana Monachesi.
A psicóloga e psicoterapeuta Geórgia Nigro Argese explica que ser bem-humorado não significa rir de tudo e de todos o tempo inteiro, está mais ligado a uma forma de encarar a vida, com mais leveza e descontração. “Rir de tudo nem sempre é sinal de uma vida satisfatória. O que importa é não se deixar abater pelo que acontece na vida. Conseguir perceber o que aconteceu, o que tirou a pessoa do sério, pensar em outra postura a ser adotada perante tal situação e tentar implementar o aprendizado no dia-a-dia.”Na opinião da analista Catarina Delgado Cavacco o riso é orgástico e só pode rir quem conhece o prazer. “O riso, geralmente, é um resultado ou a expressão de uma sensação prazerosa. A dificuldade ou variedade de expressão é que é aprendida. Cultura, educação, significado, algo transmitido, aprendido é que vão influenciar na forma como se manifesta o prazer, mas a busca pelo prazer é quase que instintiva.”
Saber rir a dois revela companheirismo
Um dos pontos altos do bom humor é que a capacidade de rir juntos tem a ver com companheirismo. Se enternecer com as trapalhadas do outro ou com o modo como o parceiro ri das suas, é uma potente arma para estar junto, já que uma relação requer dedicação constante. “O bom humor e a leveza perante a vida aproximam as pessoas. Ninguém gosta de estar próximo a alguém que está sempre reclamando, dizendo que nada nunca está bom”, afirma a psicóloga e psicoterapeuta Geórgia Nigro Argese. Quando o ambiente é leve, descontraído, há maior espaço para comunicação, as pessoas se sentem mais à vontade para colocar o que sentem e pensam. “Saber relevar pequenos descontentamentos da vida a dois, aprender a aceitar o outro com tudo o que tem de bom ou ruim, e principalmente aprender a rir das pequenas coisas do dia-a-dia transformam as pessoas e seus relacionamentos”, complementa.
Bom humor também ajuda a aproveitar melhor a vida. A pessoa bem-humorada é mais leve e gentil, desenvolve mais as emoções positivas, pensa mais nos momentos bons, transmite aos outros serenidade e esperança. Pessoas que sabem se divertir e rir são no geral mais saudáveis. O riso diminui os hormônios envolvidos no estresse, pois libera serotonina (neurotransmissor ligado aos transtornos de humor e à ansiedade). Fora a questão física associada aos benefícios de ser mais bem-humorado, há a questão social. Parece que a pessoa que vive mais leve e alegre consegue ter um bom relacionamento com as pessoas em sua vida, seja pessoal, profissional ou familiar. Mas não se pode generalizar e dizer que pessoas ditas mal-humoradas são infelizes. “Bom humor e felicidade são aspectos extremamente individuais e cada pessoa deve aprender a sua forma de sentir o mundo”, afirma Geórgia. Neste mote, saber aproveitar a vida é que mantém o bom humor, afirma a analista Catarina Delgado Cavacco.
SAIBA MAIS:
- Não existem fórmulas para se transformar em alguém bem-humorado, é um exercício de autoconhecimento constante
- A melhor maneira de levar uma vida bem-humorada é manter a coerência entre o que se sente, pensa e quer, sem deixar de levar em conta os outros, aprendendo a lidar consigo e com o que está à sua volta
- Perceber quais são as batalhas que se quer lutar e por quais motivos, ponderando os benefícios e malefícios para os envolvidos, é uma forma de aprender a se desprender de irritações que talvez não valham a pena
- Para levar a vida com mais humor não fuja das rodinhas de piadas, você certamente rirá de alguma e o riso é contagiante
- Questione o seu humor durante o dia, isto já é uma forma de se empenhar a melhorá-lo. A flexibilidade em lidar com as adversidades é um bom caminho para a alegria e o bom humor. Além disso, o bom humor já é considerado aspecto de prevenção de algumas doenças, como o câncer
- O pensamento é um importante fator que influencia o humor. Todos deveriam fazer uma higienização mental
- Existem diversas formas de prazer, tudo depende da visão de mundo de cada um. Mas o ser humano é flexível, mutável, está sempre em transformação, e se uma pessoa sente que não está feliz com seu mundo, ela tem todo instrumental para se modificar. É possível aprender a rir, chorar, amar e ter prazer
- O mau humor inabalável é um sinal de transtorno do humor e deve ser tratado por alguém competente
Fontes – Geórgia Nigro Argese, psicóloga epsicoterapeuta Ana Monachesi, psicóloga clínica Catarina Delgado Cavacco, analista comportamental